Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.Sê plural como o universo! Fernando Pessoa.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A deus dará


Quanto a isso e quanto a tudo, só me resta esperar. Quer dizer então que ficamos aqui, literalmente "a Deus dará". São tantas as coisas que independem dos meus atos, acreditar num destino onde tudo isso faça parte, me parece um delírio.
 Não consigo absorver essa concepção de esperar, o tempo dirá. Não me aquieto nem em fila de espera, estou lá, observando tudo, balançando as pernas e estalando os dedos e imaginando o que eu estaria fazendo se não estivesse ali. Pergunto-me se para esperar é necessário manter-se em inercia, porque se for, até meu esperar, que acontece tão raramente, é todo errado.
Sinto que nem o que depende só de mim tem sido feito de forma correta, que o diga aquela dieta adiada pela pizza quentinha, pelo chocolate, nessas horas me vejo como alguém imediatista que apenas age por prazeres próximos e visiveis.  Talvez no final das contas eu não vire nada relevante o suficiente, depois de tantos projetos e sacrificios feitos pela metade. É uma pena, ou não, as pessoas projetam sua esperança em mim, como se fosse realmente extraordinária  e devesse fazer algo importante, talvez não seja e tudo isso seja dito com o intuito motivacional.
 Já procurei tantos livros para compreender como funciona esse ciclo de evolução, para acalmar minha ansiedade pelo futuro. Já me falaram em metas anotadas num papel, em um deixa a vida me levar,paciência, determinação,quiça um bom adivinhador. E também já me disseram que o futuro só existe na minha mente, deve ser por isso que o brasil é o país do futuro e  o meu futuro, ele muda toda semana, de acordo com a minha coragem de enfrentar todas essas intercorrências presentes, principalmente a minha mania terrivel de procrastinação.
 Não há muito nexo no que aqui escrevo, são só pensamentos aleatórios, não me julguem e se julgarem não me contem o veredito, se disserem retrucarei como quem não se importa mas analisarei cada palavra dita e cavarei a fundo todos os defeitos mencionados e acharei que as qualidades foram ditas por educação, norma de etiqueta de uma critica. Quão confuso é ser elogiado, sempre sinto não merecer, penso que não me conhecem realmente a fundo ou que talvez eu não me conheça.  Lembro-me de algumas atitudes minhas ou puros pensamentos, aquelas que não contamos a ninguém, nem contaremos, me vejo suja, parece que ninguém é tão limpo quanto parece, isso me conforta, meus "podres" são recolhidos as minhas lembranças e não estão estampados nas capas dos jornais. 
 Me disseram uma certa vez que devemos optar entre ser feliz e ser "alguém", pois ser "alguém" requer um sacrificio, um abandono de coisas que amamos e que sonhamos amar algum dia. Parece que não dá tempo de ser alguém e ser feliz, talvez se vivêssemos uns 200 anos, ainda seria insuficiente, ou se tivéssemos um prazo de validade impresso para distribuir o tempo de uma forma melhor. 
Parece que o sentido de viver é não saber.

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Etienne Acácio