Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.Sê plural como o universo! Fernando Pessoa.

domingo, 10 de julho de 2011

O cheiro de café invade o quarto. Custo abrir os olhos, me adaptar a claridade do ambiente. Tateio a cama buscando-te.  Levanto enrrolada nos lençóis. Caminho lentamente pelo quarto em busca das minhas roupas, não as encontro. Sigo em frente, abro a porta e caminho cegamente guiada pelo aroma que vem da cozinha. Você esta lá entretido, uma, duas, três colheres de açucar na panela de café. Doce como você.
Encostada na parede te observo em silencio, você sorri sozinho, sem porque algum, isso te faz ainda mais encantador. Cada sinal do seu rosto, a sua barba por fazer, o seu cabelo bagunçado, as covinhas, posso ver seus lábios se mexendo como se estivesse cantarolando ou simplesmente falando sozinho, como costuma fazer de vez em quando. Poderia passar horas te observando sem me cansar, a tua simples presença me faz feliz sem mais.
Algum tempo depois, você levanta os olhos e ao me ver, sorri ainda mais, com os lábios e com os olhos que brilhavam intensamente. Vem em minha direção e me abraça demoradamente,  inspira profundamente na minha nuca como se quisesse roubar todo o meu cheiro,como se tivessemos passado uma eternidade distante um do outro e pensando bem talvez fosse mesmo uma eternidade.
Não me diz uma palavra, apenas me observa enquanto afaga meus cabelos e me beija suavemente. Seu olhar me acanha pois me olha tão profundamente ao ponto de sentir que lê meus pensamentos e vê minha alma nua e indefesa.
O café estava pronto, sentamos um em frente ao outro. Nos servimos, saboreamos cada gole, nos olhamos, não conseguimos dizer nada, mas acredito que pensamos a mesma coisa, algo do genero enfim estamos juntos.
Era tudo tão feliz que não podia ser corrompido por palavras, sabemos disso, qualquer uma delas não seriam o suficiente para  representar o êxtase daquele instante o qual esperamos ansiosamente por uma e-t-e-r-n-i-d-a-d-e.
Mais café?

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