Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.Sê plural como o universo! Fernando Pessoa.

sábado, 7 de janeiro de 2012

 Os corpos que atreveram-se  entre cobertas na escuridão, na claridade se estranham. Se conheceram por mãos e desejo cego, não por olhos, estes que fogem do corpo alheio recusando-se a crer que outrora  saliva, suor e tato coabitaram o alheio estranho corpo.
 A naturalidade com que as roupas foram tiradas e jogadas para cada canto incerto do quarto, a facilidade das unhas entrando na pele e dos dedos perdidos em cabelos, para onde foi  toda a intimidade quando tudo clareou. Permaneceria melhor cegamente lado a lado em olhos fechados guiados por tatos e odores que lhe trouxeram felicidade e mais, prazer.
Que a visão turvou toda a intimidade existente entre eles, ruborizou suas faces e o orgulhoso prazer sussurrado ao pé do ouvido tornou-se constrangimento.  Que há de errado nisso, os olhos nunca se pronunciam a respeito, sempre se escondem atrás de pálpebras obedientes.
 O tempo dos olhos deve ser diferente do restante do corpo, o tato o olfato e o paladar são mais adaptáveis, por isso tantas coisas de olhos fechados, a visão seria talvez a pior forma de ver.

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